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sábado, 14 de janeiro de 2012

Tarde Demais (Beautiful Boy, 2010).

Um filme sensível, triste e pesado, pra ser assistido em um dia no qual você queira ver um filme que o faça pensar sobre a vida, de preferência num dia de bom humor. Esteja avisado: o filme é muito pesado, daqueles que quando acaba deixam um peso enorme nas costas do espectador. Entretanto, é um dos melhores filmes que vi nos últimos meses.

De vez em quando surge nos noticiários algum caso de spree killing: uma pessoa, normalmente um jovem, mata a sangue frio uma grande quantidade de pessoas e termina morto - ou pela polícia ou por suicídio. O filme mostra um caso desses, mas visto a partir da família do assassino, Sammy, vivido pelo excelente Kyle Gallner (o Reed Garrett de CSI: New York; ver também Red State, ainda sem lançamento no Brasil - o garoto tem potencial), infelizmente com muito pouco tempo de tela. Afinal de contas, o foco do filme é na família, não no assassino.


Falando em família, ela é vivida pelos excelentes Maria Bello (ver os ótimos Marcas da Violência e Obrigado por Fumar), no papel da mãe, Kate, e Michael Sheen (o Tony Blair da trilogia sobre o ex-primeiro ministro inglês - The Deal, The Queen e The Special Relationship - , e nos excelentes Ameaça Terrorista, Tron: O Legado e Meia-Noite em Paris), representando o pai, Bill.

O filme mostra um lado dificilmente visto nos momentos do noticiário. Normalmente nos apressamos em pensar "que monstro!", "que educação!", "que lástima!", "que tragédia!", sem nunca nos perguntarmos realmente o que se passou. Isso é um pouco o que o filme faz, concentrando-se nos pais do garoto e sua tentativa de entender o que aconteceu e onde erraram. Os elementos mais comuns aparecem aqui: uma família distante que parece não entender tão bem o filho, um filho que se sente incompreendido pelos pais e os distanciamentos clássicos: o pai trabalha demais e não tem tempo para o filho e, um dia, o filho sai do seio domiciliar e vai para a universidade, onde acontece a tragédia explorada no filme.

As excelentes atuações do elenco não menos que notável carregam o fillme; não há a preocupação de trazer explicações para o ocorrido. Fugindo do lugar comum, mesmo quando um vídeo do garoto, feito na noite anterior à tragédia é exibido, não o vemos por completo e continuamos apenas conjecturando quais podem ter sido as razões do assassinato em massa. De novo, o foco é mesmo na reação da família e em como eles lidam com o fato em suas relações pessoais. O que acontece quando os pais de um "menino maravilhoso", como o título original indica, de repente são vistos como os responsáveis pela criação de um assassino suicida? Como eles reagem à situação? Como eles são vistos pelos vizinhos e em seus trabalhos?

O filme não responde a essas perguntas de forma definitiva porque não há como respondê-las de maneira definitiva. Encontramos apenas alguns exemplos, algumas situações e excelentes atores para nos mostrarem que o mundo que resta após uma tragédia desse quilate não ficou pior apenas para os pais das crianças assassinadas, mas também para os pais do responsável por tanta dor e sofrimento.

Nota: 4 (de 5).

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